quarta-feira, agosto 31, 2005

Alemanha – Karwendel-Mittenwald: Viagem de teleférico

Após um almoço em Partenkirchen, servido num restaurante alemão por um português, os meus parceiros de viagem, queriam por força ir visitar Mittenwald para ver o teleférico. Eu, um pouco contrafeito fiz-lhes a vontade. Como responsável pela missão de serviço, compete-me manter a coesão e a motivação do grupo de trabalho. Estávamos de fim-de-semana, porque não satisfazer-lhes a curiosidade. Assim, acelerador no carro e aí vamos nós.
Chegámos a Mittenwald e estacionei o carro mesmo por debaixo do teleférico.
Quando saímos do carro a imagem era deveras assustadora. O teleférico subia, subia, subia,....até desaparecer completamente no cimo da montanha. Se existissem nuvens, ainda se percebia que este ficasse fora da nossa vista, mas o céu estava completamente azul.
Após 3 ou 4 minutos, alguém do grupo afirmou que já nos podíamos ir embora: estava visto. A totalidade do grupo corroborou a afirmação. Eu que até nem queria ir a Mittenwald, opus-me. Chegámos até aqui, agora vamos ser homenzinhos e subir até lá acima. Não sabia onde era lá em cima, mas aquilo tinha que ter um fim; e vamos todos. Não quero medricas. O grupo contrafeito, acedeu. Ninguém queria ficar com o ónus de ser apelidado de medricas.
Comprámos os bilhetes no mais profundo silêncio, entrámos no teleférico e começámos a subir.
No passado já tinha subido em vários teleféricos, mas confesso que este me fez tremer as pernas. Quando olhava para baixo, a altura ia aumentando, transformando Mittenwald numa aldeia de brincar, e posteriormente numa mancha quase indefinível. Quando olhava para cima, continuava a não ser capaz de vislumbrar, onde o teleférico acabava. E a cabine lá ia subindo e balançando.
Por fim chegámos ao topo. Parecia que tínhamos chegado ao topo do mundo. A cordilheira dos Alpes, com os seus picos via-se a centenas de quilómetros de distância. Tudo branco, branco, branco. Nalguns sítios quando caminhávamos enterrávamo-nos quase até aos joelhos. Era por vezes difícil de caminhar, quando saíamos dos trilhos previamente estabelecidos, mas a paisagem era soberba. Um sol radioso contrastando com a neve no chão. Usava e ainda uso óculos foto-gray. Estes com a luminosidade estavam completamente pretos – se calhar foi por isso que as lentes agora já não escurecem com o sol.
Tirámos dezenas de fotografias e por fim apanhámos novamente o teleférico de volta. Não sem que apesar da minha mente já se encontrar avisada, tenha novamente sentido um tremor nas pernas.
Valeu o passeio. Todos concordaram.....e portaram-se condignamente.

segunda-feira, agosto 29, 2005

Minha Esposa

No passado sábado, fez 23 anos que comecei a namorar com a mulher que me tem acompanhado ao longo destes anos.
Costuma-se dizer que namoros de praia ficam enterrados na areia. Tal não foi o caso.
Costuma-se dizer que no casamento há anos melhores e outros piores. Tal não foi o caso.
Costuma-se dizer que por vezes é natural existirem discussões entre o casal. Tive que perguntar à minha esposa quando foi que discutimos. Em 23 anos, lá se encontraram 3 ou 4 ocasiões em que tal aconteceu e de que francamente já não me lembrava mais.
É uma mulher linda, tanto por dentro como por forma.
Tem uns olhos azuis fascinantes, uma voz doce como o mel, uma paciência sem fim (mas felizmente com personalidade - sem ser mole ou submissa), uma argúcia vincada, uma inteligência acima da média, umas bochechinhas e uma boca que eu adoro beijar, uns seios lindos, um corpo que me excita.
Sabe mesmo bem estar com ela. Muitas vezes em casa não estamos na presença um do outro, visto cada um andar nos seus afazeres, mas eu sinto sempre a sua presença, e o bem estar que ela me incute.
Foram 23 anos francamente agradáveis. Tão agradáveis que eu, que sou um despistado com datas e recordações, lembro-me tão bem desse dia como se fosse ontem.
É de facto uma Mulher com M grande.
A nossa filha tem um feitio muito vincado, muito especial. Pois a minha mulher tem uma capacidade de enfrentar as situações com que diariamente se depara com ela, de uma forma inteligentemente superior. Capacidade que muitas das vezes eu não tenho, reconheço.
Por vezes é uma mulher exageradamente sonhadora. Mas para contrabalançar cá estou eu para a trazer de novo à Mãe Terra.
No primeiro dia que nos vimos, houve de imediato uma química, que ainda hoje sinto quando olho para ela. Ela mexe comigo. Eu a amo apaixonadamente!

domingo, agosto 28, 2005

Alemanha – Kochel-Walchensee

Um dos passeios que fazem parte da tradição ao fim de semana, é ir evidentemente conhecer os Alpes.
Uma vez numa reunião de trabalho em França, perguntei porque é que eles iam fazer ski para os Alpes, quando tinham os Pirinéus tão próximos. A neve não era a mesma? Fez-se de imediato silêncio. Tinha cometido a gafe do século. Qualquer praticante sabe que a neve dos Alpes é muito mais dura, compacta, pelo que se presta melhor à prática do ski. Para além disso, as paisagens são incomparáveis. Vim a descobrir isso, uns anos mais tarde.
Bom, num célebre Sábado (ou Domingo), os 5 magníficos metem-se dentro do seu Chrysler Voyager 3,3l a gasolina de caixa automática e tomam a autobhan para os Alpes.
Numa determinada altura, já numa estrada secundária, o meu navegador enganou-se e metemo-nos por uma estrada que não era a previamente definida.
A dada altura, ele olha para o mapa e diz-nos: a seguir aquela curva, vamos ver um lago. Tratava-se do Kochel-Walchensee. Saio da curva, e deparasse perante nós uma paisagem, que apenas tinha visto nos calendários que por vezes me oferecem no início de cada ano.
Encostei o carro à direita, sem sequer fazer pisca-pisca à boa maneira portuguesa. Saímos do carro e durante 10 a 15 minutos não conseguímos proferir uma palavra que fosse entre nós. A mim, vieram-me as lágrimas aos olhos. Era indiscritível a beleza que se deparava perante nós.
Um lago espelhado, ladeado ao fundo por uma enorme cadeia montanhosa coberta de neve nos picos e montanha abaixo, como se fosse um creme branco derramado em cima de um bolo. O silêncio era sepulcral, entrecortado com o chilrrear dos pássaros. A imagem da montanha encontrava-se igualmente visível nas águas do lago. No meio das montanhas inundadas de uma espessa floresta, encontravam-se casas senhoriais e palácios perfeitamente integrados na paisagem. Deus certamente morava ali!
Sentados nos bancos que ladeavam o lago ali estavam 5 criaturas que nem fotografias tiravam, porque o seu cérebro não conseguia entender o que estavam a ver. Majestoso! Indescritível! Algo não produzido pela mão humana, mas certamente por uma entidade muito superior, com um enorme sentido estético. Ainda hoje me arrepiu do que os meus olhos viram.
Pensando bem, não vou escrever mais nada sobre este assunto. Sinto que estou a profanar algo divino.
Paisagens como esta, não se descrevem, não se fotografam, nem sequer se filmam. Apreciam-se doce e lentamente ao vivo, permitindo que os nossos neurónios tenham o tempo suficiente para que lentamente e sem perder um bit de informação a absorvam em toda a sua plenitude.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Munique – Cerveja

Como é sabido, os Alemães adoram beber cerveja. Não aos copos como nós, mas às canecas grandes. A sorte deles é que a sua cerveja tem em média um grau alcoólico inferior à nossa. Se assim não fosse, era uma desgraça.
No centro de Munique, perto de Marien Platz, existe uma dessas grandes cervejarias. Esta que visitei, tem particularidades que as nossas não têm.
É uma área muito grande, onde no meio estão 5 a 6 músicos vestidos com trajes tradicionais a tocarem e cantarem música tradicional alemã, em alto som.
As pessoas praticamente só bebem, não comem nada, e enquanto o fazem houvem a música, cantam as músicas que se vão tocando e conversam em voz alta, em grande festaria. Por analogia, para quem conhece os desenhos animados do Astérix, parece o banquete final na aldeia dos gauleses, após todas as peripécias acabarem em bem.
As mulheres que servem às mesas com trajes também tradicionais, trazem para as mesas 8 a 10 grandes canecas de cada vez. Até faz impressão como conseguem agarrar tantas canecas ao mesmo tempo, para além do peso que tal carga representa. Elas são todas mulheres encorpadas, pelo que estão habituadas ao trabalho.
O ambiente é tão informal, que até nós, nos sentimos de imediato bem. É de facto algo que merece ser visto.
Para além disso, numa sala mais reservada, existe um depósito de canecas. Isto é, as pessoas, têm canecas guardadas com o seu nome, e quando vão à cervejaria, só bebem na caneca deles. À canecas com centenas de 100 anos, que foram passando de pais para filhos, como se tratasse de um ritual.
O mais impressionante em tudo isto é de facto a forma exuberante como os alemães se divertem, como se nada no Mundo os preocupasse,....., nem mesmo se o céu lhes caísse em cima da cabeça.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Munique - Bicicletas

Na zona da Baviera outra coisa que me impressionou, foi a quantidade de pessoas que se deslocam de bicicleta.
A maioria das estradas têm 3 zonas: a destinada aos automóveis, ladeada dos dois lados por uma pista para bicicletas, e depois a parte pedonal (apenas nas proximidades das localidades).
A Baviera é uma zona praticamente plana, pelo que se presta exemplarmente a este tipo de transporte. É fácil a muitos quilómetros de distância avistar os Alpes, face à diferença de altitudes. Por exemplo da torre de telecomunicações de Munique, em dias claros, vê-se perfeitamente grande parte da cordilheira alpina. Não nos esqueçamos que estamos a cerca de 150-200 Km de distância.
Em Munique, junto às estações de comboio, vêm-se centenas de bicicletas perfiladas. Até faz confusão como conseguem reconhecer a sua.
Em Munique como nas povoações mais pequenas, como seja Donauworth, Augsburg, Rothenburg, Nordlingen, as senhoras usam na traseira das bicicletas, cestos. Nestes pousam as suas malas e quando chegam ao comercial tradicional local para fazer pequenas compras, descem o descanso da bicicleta, pegam na sua mala e vão às compras. Quando regressam pousam as compras no cesto e se houver espaço a respectiva mala.
Vi por variadíssimas vezes, senhoras que no lugar dos cestos tinham cadeirinhas de bébé. Assim se deslocam acompanhadas dos seus filhos. Mais interessante, as cadeiras possuem nas costas da mesma um gancho (a minha também tem, mas não fazia idéia para que servia), que tem como finalidade poderem pendurar a respectiva mala. Vi dezenas de casos. A mala está perfeitamente fora das vistas da própria enquanto circula. Pondo a mentalidade portuguesa (não, latina) a funcionar, que maravilha seria esta pratica para os nossos carteiristas.
Cá estão novamente as diferenças socio-culturais a trabalhar.
Para finalizar, gostaria de relatar um pequeno episódio que se passou comigo e outros colegas. Ao passearmos nas ruas de Munique, íamos destraídamente olhando para as lojas, as fachadas dos prédios,......., enfim, para todo um mundo diferente daquele a que estamos habituados a ver diariamente. Por vezes, saíamos do passeio e pisávamos a pista das bicicletas. Imediatamente um ciclista tocava a campainha, para que saíssemos do caminho. Aquele sítio é deles e de mais ninguém. Ao final de 3 ou 4 situações idênticas, começámos a comportar-nos como verdadeiros alemães.
Esta organização, este conhecimento e respeito onde se inicia e termina a liberdade de cada um, permite uma convivência feliz, que se encontra estampada na cara da grande maioria da população; situação que infelizmente não se verifica em Portugal.

terça-feira, agosto 23, 2005

Munique – Quiosque dos Jornais

A profissão que exerço, obriga-me a deslocações frequentes ao estrangeiro.
Para além disso, adoro viajar.
Entendo que essa e a melhor forma de adquirir cultura. Por vezes convencemo-nos que o nosso “modus vivendis” é um padrão a seguir, e que qualquer outro diferente, não passa de um disparate ou devaneio. A verdade, é que existem múltiplas formas de encarar o mundo, seus problemas e respectivas soluções. É preciso ter algum cuidado com as verdades ditas absolutas, nomeadamente quando desligadas dos respectivos contextos.
Ultimamente tenho tido necessidade de me deslocar profissionalmente à Alemanha.
Numa destas deslocações tive que lá ficar algumas semanas. Durante os fins de semana, como a empresa está encerrada, aproveita-se o tempo para conhecer lugares diferentes.
Devo desde já confessar, que de todos os países que visitei e já são bastantes, a Alemanha apresenta para mim um fascínio muito especial.
Certo Sábado ou Domingo (já não me lembro), decidimos ir visitar Munique (éramos 5 pessoas). Após estacionar o carro, entendemos percorrer a pé algumas ruas da cidade, para melhor a conhecermos.
A certa altura deparámos com uma caixa cheia de jornais. Após uma análise de escassos segundos, estranhámos o facto da caixa não ter cadeado (aqui está a mentalidade portuguesa a trabalhar). 1 ou 2 quarteirões mais à frente, deparámos com outra caixa idêntica e, “en passant” como dizem os franceses, constatámos que também nesta o cadeado não estava presente. Pusémos a estatística a funcionar (defeito de profissão) e começámos a achar esta situação deveras estranha. Mais 1 ou 2 quarteirões e a situação repete-se. Decidi então unilateralmente interromper o passeio e ir investigar de perto. Debrucei-me sobre a caixa e constatei que conseguia levantar a tampa e retirar os jornais sem qualquer problema. No entanto, com o meu pobre alemão, apercebi-me que estes jornais eram pagos; i.e., não eram daqueles que são oferecidos e sustentados pela publicidade.
Enquanto procedia ao estudo, aproximou-se de mim um alemão que delicadamente me pediu licença para retirar um jornal. Eu afastei-me, ele levantou a tampa, retirou o jornal e depositou a quantia numa ranhura existente na caixa, por esta sequência.

Conclusão:
Se os jornais são pagos, então as pessoas só têm que os pagar, quando os retiram do quiosque para ler.

Esta situação é tão deliciosamente simples que é dificilmente entendível não só por um português, como qualquer outro latino.
Fiquei envergonhado comigo mesmo, por todo o malévolo raciocínio que tive e induzi nos meus colegas. Não culpei as minhas origens latinas. Entendi, que me deveria culpar apenas a mim mesmo.
São pequenas situações como esta, que nos lembram a distância a que nos encontramos de certos povos: culturalmente, socialmente,..... Não digo que não tenhamos grandes qualidades, que não estão presentes nestes povos (posso citar várias), mas ainda temos um longo percurso pela frente, para nos podermos integrar de pleno direito na dita União Europeia, nomeadamente na dos países mais desenvolvidos.

segunda-feira, agosto 22, 2005

Pesca

A pesca foi um desporto que descobri à poucos anos por acaso. Julgo que num Natal, a minha esposa ofereceu-me uma cana e um carreto. Na altura fiquei muito surpreendido com tal oferta, porque tinha sido um hobby, que me tinha passado pela cabeça apenas 2 ou 3 vezes. Comprei mais uns quantos apretechos, uns livritos que explicassem as regras básicas da arte ..... e fui pescar.
Como os meus pais têm uma residencial perto do Meco, foi aí que me iniciei nas lides: praia das Bicas e praia do Meco. Rapidamente descobri uma faceta minha que não sabia existir: o gosto pela pesca, ou melhor, o gosto de estar na praia junto ao mar, em contacto com a natureza, mas tendo a mente e as mãos entretidas.
Outra praia onde gosto muito de pescar é na praia do Carvalhal a seguir a Tróia. Um santuário de sossego fora da época balnear.
O “Surf Casting”, como profissionalmente se diz, permite-me a abstracção dos problemas mundanos, liberta-me a mente e permite-me respirar o ar puro da natureza. Nunca apanhei grandes peixes. Uns Sargos, uns Charroucos (estes na foz do Guadiana) e pouco mais. Adorava um dia apanhar um Robalo, mas até à data nunca tive tal sorte.
Confesso que a pesca por vezes, leva-me a um pequeno conflito interior. Sempre que posso, quando apanho peixes e estes não ficam feridos (e não são grandinhos, evidentemente), devolvo-os ao mar. Às vezes peço a Deus, para que não apanhe nada, porque não é esse o principal motivo porque ali estou (detesto matar um peixe porque o feri); outras vezes fico aborrecido quando não apanho nada. Dá-me uma sensação de incompetência na arte da pesca; e a sensação de incompetência, é algo com que tenho enormes dificuldades em lidar.
Seja como for, gosto muito de ir com o material às costas para a beira-mar. Claro que este acto apenas pode ser feito fora da época balnear, mas como não sou um fanático, não me sinto incomodado por ter de esperar que passe tal época.
Todos os anos tiro logo em Janeiro a licença de pesca para águas interiores. No entanto, nunca experimentei tal pesca. Um tio da minha mulher já por várias vezes me convidou a ir pescar no Alentejo, mas por um motivo ou outro, tal experiência tem sempre sido adiada. Um dia destes ainda pego no carro e vou até uma barragem, para ver se o prazer que sinto, é idêntico ao que tenho quando estou à beira-mar.
Quando não vou à pesca, também me agrada ficar em casa a empatar anzóis, limpar carretos, produzir montagens. Cá está outra vez a ocupação que me liberta a mente.
Desde que temos a nossa filha que nunca mais fui à pesca. Troquei este hobby, por outros mais consentâneos com a idade dela. Não estou arrependido nem por sombras, apesar de já sentir falta de matar o meu gosto pela pesca e de estar acompanhado comigo próprio e da natureza de que tanto gosto.
Talvez agora após a época balnear faça o gosto ao dedo.....

sexta-feira, agosto 19, 2005

Punta del Mural - Frota pesqueira espanhola

Enquanto estive de férias, pude observar na baía confinada entre Punta del Mural e Isla Cristina, a frota pesqueira espanhola. São na sua grande maioria barcos de calado superior aos nossos e preparados para pesca de arrasto mecánico. O volume e tamanho da frota, não pode ser comparada com qualquer porto de pesca português que conheço. É de facto impressionante!
Da varanda do hotel, podia-se ver a saída da barra. Todos os dias úteis, os barcos (ou pelo menos uma boa parte deles), saíam para as lides da pesca. Tinham todos um ponto em comum: rumavam sempre em direcção sudoeste; i.e., entrando em águas territoriais portuguesas, não sei se para aí pescarem ou para se dirigirem às águas de algum país do Magrebe.
É fácil de perceber, que se toda a Espanha apresenta uma frota pesqueira deste calibre, não há fauna piscícola que resista nas águas territoriais espanholas. Daí a necessidade de rumarem para outras paragens,....., nomeadamente as nossas.
As zonas de banhos nas praias que frequentei, são delimitadas por bóias ligadas por cordas. Em dois dias e de forma concertada, várias embarcações fizeram arrasto a pouquíssimos metros destas. A idéia, julgo que seja a apanha de conquilhas, que do lado português são apanhadas pelos banhistas remexendo a areia com os pés, ou “de uma forma mais profissional”, usando redes agarradas a gadanhas presas pela cintura dos solitários pescadores. Assim se vê a diferença de concepção da arte entre os 2 países. Concepção industrial por parte de Espanha; concepção artesanal por parte de Portugal.
Não digo neste caso que o nosso procedimento esteja errado! Se calhar é aquele que melhor conserva o equilíbrio ecológico e o desenvolvimento sustentado das espécies. A frota espanhola devora tudo o que encontra, e é dificilmente confinável dentro das suas águas territoriais. A meu ver, o problema agrava-se com a abolição das fronteiras no espaço comunitário e a abertura progressiva da nossa zona económica exclusiva às embarcações espanholas.
Será que poderemos ter força junto das instâncias internacionais para resguardar um dos poucos recursos naturais abundantes que temos, de predadores estrangeiros? Mais, será que ainda faz sentido em apelidar os espanhóis de estrangeiros?
Eu sou um modestíssimo pescador de costa à linha. Em Portugal cada vez se apanha menos peixe. Poderia ser devido à minha falta de engenho e arte, mas quando converso com outros companheiros de hobby, todos me dizem que cada vez é mais difícil apanhar peixe. Do lado espanhol, nunca vi ninguém a pescar à linha em águas exteriores.
É urgente preservar com todas as nossas forças este enorme mar que nos protege.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Punta del Mural – Gestão de Investimentos

É interessante apercebermo-nos da realidade que se passa nesta localidade e da presente forma de pensar do povo espanhol:

1º Exemplo
O Hotel Playacanela onde ficámos é de 4 estrelas e encontrava-se praticamente cheio; sobretudo de espanhóis e também de alguns portugueses. Mesmo ao lado deste, encontra-se em construção um outro da mesma cadeia, mas de 5 estrelas. Este último hotel neste momento tem apenas as placas de betão erguidas, encontrando-se a obra parada.

2º Exemplo
A marina para barcos de recreio (muito bonita por sinal, parecendo Vilamoura em ponto mais pequeno), encontra-se terminada na sua 1ª fase e praticamente repleta de barcos particulares. Facilmente se constata, que a geografia da bacia hidrográfica, bem como algumas infraestruturas já existentes, permitem a sua ampliação, para uma dimensão muito maior.

3º Exemplo
Os edifícios construídos junto à marina, apresentam os pisos térreos tapados com paredes de tijolo na maioria dos casos (estando os apartamentos operativos) . Onde tal situação não se passa, verifica-se a existência já de lojas abertas ao público; i.e., os espaços para as lojas já se encontram definidos, mas tapados com paredes, até que tenham dono.

Em conclusão: a Espanha não entra em megalomanias. Esta zona costeira, não pode neste momento competir com zonas turísticas consagradas como sejam Torremolinos, Marbella, Ibiza, Benidorm e tantas outras. Por outro encontra-se encostada a uma zona chamada Algarve, também bem conhecida internacionalmente.
Como os recursos financeiros são escassos e dinheiro custa dinheiro, as infraestruturas básicas são preparadas para longo prazo, sendo apenas terminadas as julgadas necessárias e suficientes, para garantir o rendimento necessário, para fazer face a parte dos investimentos futuros.
Esta é de facto a grande lição a retirar. Dentro de 4-5 anos, esta zona de Punta del Mural, fará concorrência directa no mercado turístico a outras bem mais conhecidas presentemente.
Chama-se a isto crescimento sustentado! A grande magia da gestão empresarial, não está em investir hoje 500, para no ano seguinte arrecadar 1.000 e quem vier atrás que feche a porta. A magia está em investir sistematicamente 100, para poder retirar 130 anualmente. Os planos de curto e médio prazo, são sustentados por planos de longo prazo.É esta a grande diferença de mentalidade entre os investidores portugueses e espanhóis.
Também é verdade que passámos por uma revolução (com tudo o que isso tem de positivo e negativo) e eles por uma evolução na continuidade, mas.....isto é outra história....só que a diferença nos resultados começa a estar à vista!

quarta-feira, agosto 17, 2005

Punta del Mural

Como tenho uma filha com 2 anos a minha esposa nestas férias não se quis ausentar para muito longe de casa, não fosse aparecer-lhe algum contratempo de saúde que obrigasse a uma intervenção rápida. Por outro lado, eu estava farto do “modus vivendis” português, com tudo o que isso tem presentemente de negativo.
Assim, tentando equilibrar ambas as vontades e pela 1ª vez, decidimos ficar a 2ª quinzena de Julho em Punta del Moral, no Hotel Playacanela.
Punta del Moral é uma pacata localidade costeira a 8 quilómetros da fronteira de Vila Real de S. António, imediatamente a seguir a Isla Canela. Trata-se de uma zona com excelentes condições naturais, como seja uma marina para barcos de pesca e desporto, e um areal sem fim. Este não é tão branco como o do Algarve, penso que devido à proximidade da foz do rio Guadiana. A verdade é que:
· descansámos;
· disfrutámos da praia de águas mornas;
· não tivémos que aturar a televisão portuguesa, nomeadamente dos noticiários da desgraça, ou dos profetas dela;
· pude conduzir o carro sem o stress do egoísmo que se implantou no coração dos portugueses e que se traduz na forma como se conduz;
· atestar gasolina cerca de 30Esc. mais barata por litro;
· e aproveitar a hospitalidade, afabilidade e organização tão típicas das estâncias turísticas espanholas.
Estes 15 dias valeram todos os euros que se gastaram. Conhecendo eu como conheço vários destinos estrangeiros, devo confessar que não fiquei minimamente desiludido.
No hotel havia uma piscina sem fim, uma exterior e uma interior, dois jacuzzis, sendo um de água quente, ar condicionado no quarto, escorregas e baloiços para as crianças e bastava abrir a porta das traseiras, atravessar o passeio pedonal e aí estávamos nós na praia. Parecia um paraíso a 3 horas de Lisboa.
Nunca tinha visto tanta criança num mesmo hotel, acompanhada de pais e avós, mas na realidade é para isso que este hotel se presta. Até pelas piscinas se via a preocupação com os mais novos: nenhuma das piscinas tinha mais de 1,60Mt de altura de água, pelo que eu tinha sempre pé (as pessoas espalhavam-se por toda a área das piscinas, sem encontrões), possuía 2 escorregas para dentro de água, e a exterior tinha a particularidade de numa das pontas ter uma rampa muito suave, que permitia que todas as crianças pudessem estar na água, sem aflições para os pais. Bem feito! Chegava a haver crianças na água com meses de idade. A minha filha adorou não necessitar da nossa ajuda para entrar na água.
Sempre que se quisesse matar saudades de Portugal, bastava atravessar a ponte do Guadiana e em 15 minutos estávamos no centro de Monte Gordo ou Vila Real de S. António.
Excelente localização! Excelente serviço! Excelentes férias!

Regresso de férias

Cá estou eu mais uma vez sentado ao computador do costume, após mais um período de férias. Satisfeito por um lado, por estas terem decorrido tão bem, insatisfeito, por não ter conseguido alcançar um dos meus objectivos. Se nestas 4 semanas consegui descansar a mente, não consegui livrar-me dos calmantes (Pazolan).
Antes de ir de férias, para aguentar o stress estava a tomar:
* 1 comprimido 0,5mg ao jantar;
* ½ comprimido 0,5 mg ao pequeno almoço;
* ½ comprimido de 0,5 mg al almoço.
Pensei: tomo 4 ½ comprimidos, tenho 4 semanas de férias, então vou reduzir ½ comprimido por semana, para quando retomar o trabalho estar limpo de drogas. Assim comecei a fazer, mas infelizmente durante a 4ª semana, voltaram as dores musculares no peito, no braço e perna direita, a taquicárdia, bem como os tremores.
Talvez seja a excitação pelo recomeço do trabalho e saber que no novo ano de trabalho que começa, os problemas vão ser cada vez maiores.
Como é possível satisfazer um cliente com X horas de trabalho, quando o potencial existente na empresa é X/4? Para agravar a situação, todas as linhas de montagem na Europa, dependem da nossa produção de peças. Trata-se de uma perfeita impossibilidade matemática, que ainda por cima não está nas minhas mãos controlar. No entanto, vou ter de dar a cara ao Cliente quando este começar a reclamar e por fim a desesperar. Acho que esta situação é tipicamente portuguesa: ter mais olhos que barriga!
A verdade é que não posso deixar que este ano se transforme num calvário 2 ou 3 vezes superior ao do ano passado. Cada um tem que assumir as consequências dos seus actos. Eu não posso carregar o fardo das más decisões alheias. Tal situação é-me insustentável e trás prejuízos incalculáveis para mim e para toda a minha família. Tenho que realizar a minha parte com todo o profissionalismo possível, mas ......... não posso sózinho alterar o panorama em que estamos mergulhados.
Por vezes quase que entendo a forma como os funcionários públicos atendem as pessoas. Se calhar também lutaram contra o sistema, mas este é bem mais forte do que eles, pelo que a solução não pode ser outra senão submeterem-se à lei do mais forte, para tentarem sobreviver.
Infelizmente é esta a perspectiva com que tenho de encarar este ano de trabalho que aí vem, para bem pessoal e da minha família.
Tenho que manter a mente entretida com outros temas sempre que transpuser as portas da empresa, arranjar um hobby, dedicar a minha cabeça a estudar assuntos, que infelizmente por um motivo ou outro tenho vindo a adiar.
Eu tenho e quero livrar-me dos fármacos. Tenho 43 anos de idade e não pretendo que estes façam parte integrante da minha vida!