terça-feira, agosto 23, 2005

Munique – Quiosque dos Jornais

A profissão que exerço, obriga-me a deslocações frequentes ao estrangeiro.
Para além disso, adoro viajar.
Entendo que essa e a melhor forma de adquirir cultura. Por vezes convencemo-nos que o nosso “modus vivendis” é um padrão a seguir, e que qualquer outro diferente, não passa de um disparate ou devaneio. A verdade, é que existem múltiplas formas de encarar o mundo, seus problemas e respectivas soluções. É preciso ter algum cuidado com as verdades ditas absolutas, nomeadamente quando desligadas dos respectivos contextos.
Ultimamente tenho tido necessidade de me deslocar profissionalmente à Alemanha.
Numa destas deslocações tive que lá ficar algumas semanas. Durante os fins de semana, como a empresa está encerrada, aproveita-se o tempo para conhecer lugares diferentes.
Devo desde já confessar, que de todos os países que visitei e já são bastantes, a Alemanha apresenta para mim um fascínio muito especial.
Certo Sábado ou Domingo (já não me lembro), decidimos ir visitar Munique (éramos 5 pessoas). Após estacionar o carro, entendemos percorrer a pé algumas ruas da cidade, para melhor a conhecermos.
A certa altura deparámos com uma caixa cheia de jornais. Após uma análise de escassos segundos, estranhámos o facto da caixa não ter cadeado (aqui está a mentalidade portuguesa a trabalhar). 1 ou 2 quarteirões mais à frente, deparámos com outra caixa idêntica e, “en passant” como dizem os franceses, constatámos que também nesta o cadeado não estava presente. Pusémos a estatística a funcionar (defeito de profissão) e começámos a achar esta situação deveras estranha. Mais 1 ou 2 quarteirões e a situação repete-se. Decidi então unilateralmente interromper o passeio e ir investigar de perto. Debrucei-me sobre a caixa e constatei que conseguia levantar a tampa e retirar os jornais sem qualquer problema. No entanto, com o meu pobre alemão, apercebi-me que estes jornais eram pagos; i.e., não eram daqueles que são oferecidos e sustentados pela publicidade.
Enquanto procedia ao estudo, aproximou-se de mim um alemão que delicadamente me pediu licença para retirar um jornal. Eu afastei-me, ele levantou a tampa, retirou o jornal e depositou a quantia numa ranhura existente na caixa, por esta sequência.

Conclusão:
Se os jornais são pagos, então as pessoas só têm que os pagar, quando os retiram do quiosque para ler.

Esta situação é tão deliciosamente simples que é dificilmente entendível não só por um português, como qualquer outro latino.
Fiquei envergonhado comigo mesmo, por todo o malévolo raciocínio que tive e induzi nos meus colegas. Não culpei as minhas origens latinas. Entendi, que me deveria culpar apenas a mim mesmo.
São pequenas situações como esta, que nos lembram a distância a que nos encontramos de certos povos: culturalmente, socialmente,..... Não digo que não tenhamos grandes qualidades, que não estão presentes nestes povos (posso citar várias), mas ainda temos um longo percurso pela frente, para nos podermos integrar de pleno direito na dita União Europeia, nomeadamente na dos países mais desenvolvidos.

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