quinta-feira, novembro 10, 2005

RAVENA

Ravena foi a a paragem seguinte. É uma cidade que não me deixou marcas, talvez por ter vindo logo de Veneza.
Fizémos uma excursão de autocarro a Vicenza, Verona e Pádua.
Foi esta última última paragem a que realmente me marcou.
Na Igreja de S. António que nós dizemos que é de Lisboa e eles de Pádua, estão expostos alguns artefactos que ele utilizava quotidianamente, nomeadamente o seu manto. Até aqui tudo bem! Agora também está exposta na Igreja uma língua humana que dizem ser a dele. Nunca tinha visto nada mais tétrico na minha vida! A língua de um homem exposta em público?
Não entendo esta displicência, este despudor da Igreja Católica. Eu já tenho dificuldade em digerir imagens religiosas, ...., mas isto é demais!
Para mim a religião é tão mais pura quanto mais “abstrata” for; quanto menos imagens permitir. Qualquer imagem, estátua, pintura, por muito bem feita que seja, não poderá retratar toda a essência que se encontra por detrás da religião ou crença.
Para retratar a morte de Cristo, como modelo de salvação da Humanidade, não é necessário que na cruz esteja alguém representado. A cruz basta. Sinto que o espírito do sacrifício de Cristo em nosso benefício, a sua mensagem, está lá mais presente se a cruz estiver vazia.
Compreendo que a compreensão humana necessita muitas vezes de imagens, conceitos pré-definidos. Fazer leituras a partir do “abstraccionismo”, é previlégio de uma elite socio-intelecto-cultural acima da média, quando a religião deverá ser sempre o mais abrangente possível.
Também é inegável que a Igreja Católica com este procedimento contribuiu em muito durante muitos séculos para o desenvolvimento das artes no Mundo, mas..... uma língua exposta, para mim é demais! Quanto mais não seja, porque a língua é apenas um instrumento de comunicação do cérebro (um periférico em linguagem computacional). A estar exposto, que fosse o brilhante cérebro, que os relatos dizem que S. António possuía. Mesmo assim, continuo a entender que seria demasiado forte, demasiado despropositado.

1 comentário:

Vilma disse...

Começo a ler este post e termino de ler com os olhos em água.. e tu sabes porquê!