quarta-feira, outubro 18, 2006

Quem nasceu chinelo raramente chega a sapato

Ontem emparelhei o gravador de DVD chinês, com a televisão da cozinha, também chinesa, de uma marca que nem me lembro do nome.
Deram-se às mil maravilhas. Até parece que foram feitos um para o outro; beijinhos e abraços, amamo-nos profundamente.
Até na electrónica o sistema das classes sociais (quero dizer padrões de comportamento) funciona!
O termo poderá hoje em dia parecer um pouco em desuso, mas a realidade é que a imiscibilidade entre classes sociais distintas, mantém-se inalterada ao longo dos tempos.
Outro dia li numa revista (Sábado, penso), que é normal as famílias que vivem na Quinta da Marinha, terem grupos de relacionamento mais ou menos fechados, tirando as festas promovidas ou insentivadas pelos “mass media” e que servem para marketing pessoal.
Eu percebo e entendo.
Outro dia fui à “pré-inauguração” de uma pousada que uma tia da minha mulher pretende abrir no coração do Alentejo.
Apenas 6 quartos e uma sala de estar e jantar de grande requinte. Senti-me bem, muito bem. Livros à descrição para ler, grande parte deles em castelhano, porque não?! Bons sofás para manter uma agradável conversa, ou uma prolongada entrega por exemplo à leitura da vida de Estaline (do qual ainda tive a oportunidade de ler umas quantas páginas). Televisão, nem vê-la. Se quiserem, desloquem-se para os quartos, onde em cada um existe tal aparelho.
Estava sentado num dos confortáveis sofás e comecei a pensar para com os meus botões:
Este doce é de tal modo raro, que não é para qualquer boca. A grande maioria dos portugueses não conseguirá disfrutar de tamanha dádiva. Não estão habituados, não fazem parte do seu padrão de vida. Não se identificam com tal “modus vivendis”.
A questão não tem a ver com dinheiro. A questão tem a ver com berço e percurso de vida.
Daí que muitas vezes misturar conversas entre indivíduos de vários níveis sociais, pode revelar-se um verdadeiro tédio para um dos interlocutores. Solução: fechar-se sobre si próprio, preservando o direito à diferença.
Foi isso que faltou à linguagem do meu DVD e que aborreceu de tédio o meu televisor.

1 comentário:

Xuinha Foguetão disse...

Talvez ultimamente te tenhas fechado demasiado sobre ti próprio.
E não te tenhas dado ao prazer de te deliciar com as aventuuras do chinelo.

Lá em casa somos chinelo e com o maior prazer. Não me importo de não chegar a sapato, desde que seja um chinelo feliz.

Vive-se como se pode! :)

Xuinha Chinelo com todo o prazer.
Os sapatos apertam muito.

Ahahahahahahha!