Alguns dias após a entrada dos americanos na 1ª guerra contra o Iraque, fui obrigado a comparecer em Toulouse à entrega oficial do 1º componente aeronáutico que tínhamos produzido para o avião AIRBUS A340.
Nessa altura ninguém queria andar de avião, com medo do terrorismo islâmico. Estávamos, se a memória não me falha em 1990. Eu também não queria voar, mas o meu chefe, na altura militar de carreira, “convidou-me” a acompanhá-lo. Paciência! Eu sou um profissional e o que tem que ser, tem muita força.
Chegámos ao Aeroporto da Portela e fomos recebidos por militares de G-3 ao pescoço. Estávamos à espera de entrar na sala de embarque e um militar mantinha a sua metralhadora na posição horizontal, quase apontando para os passageiros. Imediatamente o meu chefe que tinha patente de Oficial Superior da Força Aérea, abeirou-se dele, segredou-lhe que aquela posição da arma não se coadunava com a instrução militar que lhe tinham ministrado e este roburizado baixou a arma.
Entrámos no avião da TAP para Toulouse e verificámos que no avião íamos apenas nós os 2, mais um casal. 4 pessoas a bordo de um avião Airbus A320!!! Tínhamos bilhete de classe turística, mas visto a peculiar situação, passaram-nos para classe executiva. Uma hospedeira para 4 passageiros era mais que suficiente.
Já sentados no avião, fomos informados pelo comandante, que o corredor aéreo se encontrava fechado, para dar passagem aos bombardeiros americanos B-52, que íam “fazer festinhas” aos iraquianos. Passámos 50 minutos sentados no avião. Desgraçados dos iraquianos! 50 minutos a passarem aviões B-52, cada um carregado com milhares de quilos de explosivos, faço idéia dos estragos que fizeram.
Finalmente levantámos voo e qual não é o nosso espanto que nos serviram ao almoço um prato de marisco: lavagante! Nunca tinha tido (nem nunca mais tive) um almoço a bordo que me soubesse tão bem. Parecia que estava a almoçar no Tavares Rico em Lisboa!
À volta, viemos via Paris. O aeroporto Charles de Gaulle, não tinha literalmente ninguém. Corredores e corredores onde não se via ninguém. Pareciam imagens tiradas de um qualquer filme de acção, em que a natureza se encarrega de dizimar os humanos.
Nunca tinha visto nada igual! Mais uma imagem, que por muitos anos que viva, nunca me esquecerei.
A missão a Toulouse foi um sucesso. Fomos profusamente elogiados, pelo profissionalismo, empenho e espírito de sacrifício que toda a equipa dispendeu e regressámos a Lisboa, sãos e salvos.
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