Das inúmeras viagens de avião que fiz, uma das mais interessantes foi uma célebre viagem de avião de Toulouse para Madrid.
Em tempos, trabalhei muito directamente com uma empresa de fabricação aeronáutica francesa, sediada em Toulouse. Como tal, durante alguns anos tinha que me deslocar periodicamente às suas instalações.
Apesar de haver ligações directas Lisboa – Toulouse, estas não são diárias e por vezes eram incompatíveis, com as datas das reuniões. Assim, tinha que ir via Paris (aeroporto de Orly ou Charles de Gaulle).
Durante uma reunião ordinária de seguimento do Programa, fomos informados que tinha rebentado uma greve nos Aeroportos de Paris. O motivo já não me lembro. Devido a esse facto, a solução de regresso, passava por vir de avião via Madrid.
Chegámos ao aeroporto de Toulouse, fizémos o check-in e dirigimo-nos à porta de embarque, como é da praxe. Entrámos no autocarro de ligação e, por defeito profissional, fico sempre na expectativa de saber qual o modelo de avião que nos vai sair em sorte. Neste caso saiu-nos um SAAB 340. Trata-se de um avião bi-motor pequeno, turbo-prop, de +/- 30 lugares. Entrámos para o avião e lá levantámos voo.
Normalmente por cima dos Pirinéus (aliás, sempre que existe relevo acentuado do terreno), existem ventos cruzados que perturbam o voo.A certa altura da viagem, já por cima dos Pirinéus, o comandante informou que iríamos passar uma zona de turbulência, pelo que deveríamos apertar o cinto de segurança.
Eu ía sentado na penúltima fila. Quanto mais longe estivermos do centro de gravidade do avião, mais sentimos as oscilações do mesmo (as leis da Física são assim e ponto final). A verdade é que com os saltos do avião, eu chegava a levantar o rabo do banco. Aquilo que evitava que batesse com a cabeça no tecto era o cinto de segurança. Passámos bem mais de um quarto de hora naquele filme. Tenho muitas horas de voo, mas nunca tinha sido chocalhado daquela maneira. Atrás de mim seguia uma senhora que só ria à gargalhada. Julgo que era a forma que tinha de controlar os nervos. Para ajudar à desgraça, a hospedeira tinha-nos servido uma bebida e uma sandes, mas não teve tempo de retirar “as sobras” antes do acontecimento. Assim, tinha que segurar o copo na mão, porque no tabuleiro da cadeira era impensável: entornava-se tudo. Tentei esvaziar o copo bebendo o conteúdo, mas........., como é que eu conseguia levar o copo à boca com aquelas subidas, descidas, volta para a esquerda e para a direita! Onde é que ficava a boca? O cérebro não conseguia dar ordem à mão para acertar com a boca.
Foi o voo mais divertido que fiz em toda a minha vida.
Depois disso fiz várias vezes esta mesma viagem, mas nunca mais se repetiu o incidente.
Este é o grande defeito dos aviões turbo-prop (a hélice) face aos aviões turbo-fan (jacto). O tecto, i.e., a altitude de voo, tem que ser mais baixa e quanto mais baixa, mais estamos expostos às contigências atmosféricas.
Quis deixar escrito o registo deste facto, apesar de saber que por muitos anos que viva, dificilmente me vou esquecer deste incidente.
2 comentários:
Foi mesmo "só" divertida? Acho que um pouco de pavor deve ter andado por aí..eheheh!
Gostei de ler e senti os calafrios da viagem tipo Montanha-russa.
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