quinta-feira, setembro 15, 2005

Somos ricos porque exploramos os pobres

Eu trabalhei na empresa durante largos anos no avião AIRBUS A340, para um cliente francês de Toulouse.
Como sempre, os clientes pretendem comprar produtos ao mais baixo preço, e nós vendermos ao mais alto possível. O relacionamento do mundo dos negócios é sempre assim.
Acontece no entanto que, como empresa portuguesa que somos face a uma empresa francesa, a nossa capacidade negocial é normalmente inferior. Nomeadamente quando terceiros (eles), detêm a capacidade de projecto e nós apenas a capacidade de industrialização e manufactura, a nossa posição negocial nunca é muito confortável.
Quem está melhor posicionado na cadeia de valor, tem maior peso negocial. Quanto mais não seja, pode sempre decidir produzir noutra unidade de transformação ou noutro país. A presente globalização da economia, tem-nos dado imensos casos típicos, e daí o apelo dos políticos aos empresários para tentarem subir na cadeia de valor dos produtos que comercializam.
Um dos representantes dessa companhia francesa, filho de mãe francesa e pai argelino, era (é, só que já reformado) o retrato típico de um excelente comercial. Homem culto, instruído, viajado, conhecedor da área comercial bem como da área técnica (faceta muito pouco comum entre os comerciais).
Realizámos conjuntamente várias reuniões para definição de preços de manufactura, reparações, modificações,......
Um dia, após mais uma reunião em Portugal, fomos dar uma volta pela produção.
A certa altura, ele de repente pára, fita-me nos olhos e pergunta-me:
- Sabes porque é que nós franceses somos um povo e um país rico?
Eu, após pensar um pouco, respondi-lhe:
- Não faço idéia!
Resposta:
- É simples! Porque exploramos os pobres!
A resposta foi para mim desconcertante. Neste caso o pobre era eu (nós). Esta situação passou-se à mais de 10 anos, mas nunca mais me esqueci dela.
A experiência tem-me vindo a demonstrar que infelizmente esta resposta nua e crua está certa.
Podemos discordar dela. Podemos achar edionda, mas é assim que o mundo está funcionando. Nas Nações Unidas toda a gente apela a uma Nova Ordem Mundial, mas o poder político nada pode, contra o poder económico.
Se não fizermos por nós o que for possível para ultrapassar esta situação, não serão terceiros que nos iram ajudar. E se por ventura nos ajudam, normalmente é porque querem algo em troca.
Não vale apena chorar, gritar, barafustar! O Mundo é assim, e na nossa pequenez geográfica, demográfica, económica, industrial, nada podemos fazer para ultrapassar tal facto. Temos é que ter a sagacidade e persistência, para todos os dias, de uma forma se possível invisível, dar-mos um pequeno passo no sentido de contrariar tal desígnio.
Veja-se o caso chinês e indiano. O boom das suas economias não se deu por acaso. Foi construído ao longo de muitos e por vezes penosos anos. Agora, tal como uma planta que foi semeada, e cuidada, desabrocha na mais linda flôr, como se esta tivesse nascido do nada. Mas atenção.....a verdade não é esta!

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