quarta-feira, setembro 07, 2005

Gato Fedorento

No passado Domingo fui com a minha família e mais alguns casais a casa de um cunhado meu. Fomos ver a sua casa nova. Esta ainda não está toda decorada, mas tem para já o essencial para quem é ainda solteiro e vive em casa dos pais.
Enquanto as crianças pequenas se divertiam num quarto vazio e as mulheres conversavam noutro, os homens (todos mais novos que eu) sentaram-se à volta da televisão a ver um DVD de um espectáculo do Gato Fedorento, realizado no cinema Tivoli (acho).
Os presentes riam-se das várias cenas que se iam desenrolando. Não conseguia achar piada, mas fiz um esforço para tentar encontrar algo naquela actuação, que me fizesse rir. Infelizmente só consegui ficar triste e preocupado. A estupidez e a imbecilidade demonstrada em palco, arrepiou-me. Perguntei a mim próprio: será que com 43 anos estás a ficar velho e já não consegues acompanhar a nova geração, ou será que esta é uma geração de falhados?.
Se voltarmos atrás no tempo, às Sagradas Escrituras e ao Êxodo, verificamos que toda a população que abandonou o Egipto, não entrou na Terra Prometida (com duas excepções). Deus obrigou-os a vaguiarem 40 anos no deserto para “purificar a raça”; para que quem fosse edificar a nova nação na Terra Prometida, não apresentasse de forma explícita os defeitos adquiridos por uma repentina revolução de mentalidades derivada da liberdade (ou libertinagem), que a saída do Egipto lhes concedeu.
A história mais recente, menciona-nos uma situação semelhante: a Revolução Francesa. Como é sabido esta estalou em 1789, com convulsões sociais profundas. Seguiu-se um longo período de desnorte, liberdade (ou libertinagem), que foi de alguma forma controlado com a subida ao poder do Imperador Napoleão Bonaparte. Claro que nesta altura para além dos cofres do estado estarem vazios, os ideais que levaram à revolução, passavam por um vazio de idéias. Para encher os cofres do estado e unificar as populações, só lhe restou a solução de partir à conquista de novos territórios, como foi a invasão da Itália. País rico para além de outras coisas, em obras de arte valiosíssimas. Claro que o seu reinado não estava destinado a ter grande futuro e foi posteriormente afastado do poder para a ilha de Elba. Após este período então sim, foi-se consolidando lentamente a autoridade da Nação, o amadurecimento intelectual do povo e oconsequentemente o crescimento económico e industrial francês.
Nós em Portugal em 1974, também começámos por uma revolução.
Por exemplo, na área educativa, fizeram-se as maiores barbaridades em nome da democracia: houve passagens administrativas, lançamento de notas irregulares nas secretarias, a tranformação de exames de aptidão em trabalhos de grupo,..... Enfim, a qualidade do ensino baixou a níveis nunca vistos, e claro, os homens de hoje são aquilo que o molde de barro mouldou nestes 30 anos, não esquecendo evidentemente as falhas de “l’ancien regime”.
O que temos hoje? Técnicos iletrados, gestores fracassados, todo um país falho de princípios e ideais. Felizmente existem grandes e honrosas excepções, mas na sua maioria, a realidade do País é mesmo esta. Por isso, e também por outros motivos, Portugal é um país à deriva, sem rumo, sem objectivos, sem perspectivas de futuro. Às vezes pergunto-me mesmo se não será por isso que o Partido Socialista só conseguiu encontrar como candidato à Presidência da República Portuguesa um literado, culto mas velhinho Mário Soares. Se desgraçadamente para nós fosse eleito, terminaria o seu mandato com 86 anos!!!! Será que não tinham outra solução? Este quando fez 80 anos, sensatamente disse que estava na hora de abandonar a vida política activa, e tinha razão! Depois disse que a seguir ao almoço tinha de dormir pelo menos 1 hora, o que se compreende face à idade! E agora, teve que se chegar à frente porque não havia outra solução? Será verdade? Se calhar e infelizmente, é! Que outro homem do Partido Socialista poderia convencer essa enorme mole de massa cinzenta desmaiada votante que graça no País?
Voltando ao início do meu escrito, aqueles 4 garotos que fazem o Gato Fedorento e que são da tal geração de falhados que infelizmente abunda neste país, ou tentam representar aquilo que é a vivência em Portugal (e são mais espertos e profissionais do que aquilo que eu penso que são), ou julgam que estão a fazer um grande programa, e isso entristece-me. Entristece-me ver uma enorme plateia com uma moldura humana pensante, que eu tenho medo de descrever neuronicamente falando. Se este espectáculo fosse num país evoluído, concerteza que este “bando dos 4” só teriam vendido (oferecido) bilhetes a familiares e amigos dos mesmos.
As empresas portuguesas fecham ou são vendidas aos espanhóis, a nossa internacionalização no contexto da economia global é praticamente inexistente. O nosso tecido empresarial não é competitivo. Aos nossos empresários falta ousadia. Desconhecem conceitos como sejam “Taxa Interna de Rentabilidade” ou “Valor Actual Líquido”. Não sabem distinguir um custo de um investimento. Proliferam empresas de serviços que vendem produtos umas às outras sem criarem Valor Acrescentado (riqueza) visível para o País. Dispender hoje 100, para amanhã ganhar 200; depois de amanhã, quem vier atrás que feche a porta. Os gastos com Investigação e Desenvolvimento, ou são escassos, ou produzem resultados abaixo do normal. Isto são factos demonstravéis através de vários estudos feitos sobre o nosso país.
Como eu gostava de acreditar que estou a começar a ficar velho, bota de elástico e desactualizado e que “Gatos Fedorentos” não passassem disso mesmo: representações fedorentas.

4 comentários:

Ana Rute Oliveira Cavaco disse...

Eu também lá estava e também vi e acho imensa graça. A piada do Gato Fedorento é mesmo essa: o humor "non sense". E não considero que a minha geração seja de falhados, Artur. Acho este post muito injusto.

lénia rufino disse...

o que vale é que há pessoas que se sentam calmamente em casa a dizer mal de tudo, mas não se dão ao trabalho de levantar o rabinho do sofá para fazer o que quer que seja...
esses 4 meninos de que fala são miúdos que reinventaram o humor em portugal. quando a coisa estava estagnada, eles chegaram e revolucionaram tudo. o herman passou para 7º lugar no ranking, os stand-uppers subiram. eles têm o mérito de nos fazer rir de nós mesmos. de nos fazer rir da situação do país. chama-se a isso ter mente aberta, coisa que me parece que o artur não tem.
outra coisa: geração de falhados??? suponho que o artur seja o supra-sumo de qualquer coisa, para generalizar assim. somos, isso sim, uma geração de pessoas que lutam todos os dias para combater o caos que se instalou neste país em termos económicos... culpa de quem? da geração anterior! ora quer-me parecer que o Artur faz parte dessa mesma geração... se não nos tivessem metido o país neste caos, as coisas seriam mais fáceis e a minha geração brilharia certamente mais. nós limitamo-nos a jogar com as cartas que nos dão e a tentar todos os dias melhorar isto ... a ver se um dia saímos da cepa torta. já agora, em vez de criticar gratuitamente, podia arregaçar as manguinhas e ajudar a melhorar as coisas... quem sabe se, graças a sim, a nossa geração não melhora ainda mais??

sandra disse...

"Como eu gostava de acreditar que estou a começar a ficar velho, bota de elástico e desactualizado".É bom que te mentalizes. Sem comentários.

Xuinha Foguetão disse...

Artur,

não consegui ler o post todo... Desculpa!

Eu tb estava sentada no sofá e tb me ri. Umas têm mais piada do que outras, mas é normal!
Uns gostam e outros não gostam.
Mas daí a pôr em causa o valor de uma geração (e por acaso até parece que é a minha) acho que não está muito certo.

Não me sinto uma pessoa falhada. Sou uma miúda realizada, feliz. Tenho amigos assim e não os vejo como falhados.
E já vi muitas pessoas da tua geração a rir às gargalhadas com o Gato Fedorento. Será que isso também fará a tua geração uma geração de falhados? HHuuummm! Não me parece.

Por outro lado... este post sim! Poderia considerar-se um post falhado! :)

Um beijo com uma dose de bom humor,

Xuinha