sábado, maio 21, 2011

Entrevista póstuma com Albert Einstein

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O LUGAR DE DEUS

Fala na natureza, do universo em si, como se fosse uma entidade viva e plena de ordem, uma espécie de divindade....

Qualquer pessoa que se envolva seriamente no trabalho científico acaba por se convencer de que existe um espírito que se manifesta nas leis do universo, um espírito imensamente superior ao espírito humano, diante do qual nós, com os nossos modestos poderes, temos de nos sentir humildes. Como tal, a pesquisa científica conduz a um sentimento religioso especial, que é efectivamente muito diferente da religiosidade de uma pessoa mais ingénua.

Refere-se a essa religiosidade com alguma emoção. Isso não é um contra-senso, tendo em conta que o objectivo da ciência é lidar com factos?

A emoção mais bela que podemos experimentar é o sentimento de mistério. É a emoção fundamental que está na origem de toda a verdadeira arte e ciência. Aquele que desconhece essa emoção, aquele que já não consegue maravilhar-se, ficar arrebatado pela admiração, é como se estivesse morto; é uma vela que foi apagada. Sentir que, por detrás de tudo o que pode ser experimentado, existe algo que a nossa mente não consegue captar, algo cuja beleza e solenidade só nos atinge indirectamente: isto é religiosidade. Neste sentido, e apenas neste sentido, sou profundamente religioso.

É ateu?

Não sou ateu. Mas esse problema é demasiado vasto para as nossas mentes limitadas. Estamos na mesma situação que uma criança que entra numa biblioteca repleta de livros em muitas línguas. A criança sabe que alguém escreveu esses livros. Não sabe de que maneira, nem compreende os idiomas em que foram redigidos. A criança tem uma forte suspeita de que existe uma ordem misteriosa na organização dos livros, mas não sabe qual é essa ordem. Esta é, parece-me, a atitude do ser humano, mesmo do mais inteligente, em relação a Deus. Vemos um universo maravilhosamente organizado e que obedece a certas leis, mas apenas compreendemos essas leis muito vagamente."
(excerto da "Entrevista póstuma com Albert Einstein" - Revista Super Interessante Março 2011)

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